Crítica de Elio

Por Lucas Figueiredo*

Com um universo vasto e inexplorado à nossa volta, a pergunta que sempre paira no ar é: estamos realmente sozinhos no universo? Essa é a reflexão central de Elio, novo filme da Pixar, que combina fantasia e emoção para contar uma história sensível sobre solidão, pertencimento e identidade. A animação convida o público a embarcar em uma jornada leve, divertida e, ao mesmo tempo, profunda — explorando as dificuldades de se encontrar num mundo cheio de diferenças. Elio, o protagonista, é um garoto criativo e introspectivo que não se sente parte do seu próprio mundo. Após perder os pais, ele passa a viver com sua tia, uma major envolvida com uma organização espacial. Desde pequeno, Elio é fascinado pelo cosmos — pelas estrelas, galáxias e a possibilidade de vida além da Terra. Essa admiração cresce ao ponto de ele desejar, a todo custo, ser abduzido por extraterrestres. E, para sua surpresa, ele consegue. Transportado para o espaço sideral, Elio acaba sendo confundido com o embaixador da Terra por uma federação intergaláctica. Em meio a disputas cósmicas e civilizações alienígenas, ele se vê no centro de uma guerra que vai além do físico — uma batalha interna para descobrir quem ele é e onde realmente pertence.

Após um período de continuações e franquias consolidadas, a Pixar retorna com uma história original, que, embora inédita em sua narrativa, preserva os elementos clássicos do estúdio: leveza, humor inteligente, emoção e acessibilidade para todas as idades. Elio se insere no mesmo molde de outras animações da Pixar — centrada em uma criança que se sente deslocada, embarca em uma grande aventura e, ao fim, retorna com um novo olhar sobre si e o mundo ao seu redor. Visualmente, o filme é mais um acerto técnico do estúdio: os cenários espaciais são deslumbrantes, os personagens alienígenas são criativos e simpáticos, e a animação mantém o alto padrão de qualidade já esperado da Pixar. O humor, bem dosado, agrada tanto as crianças quanto os adultos, especialmente aqueles que acompanham seus filhos nas sessões de cinema.

Um dos maiores méritos de Elio é abordar o sentimento de solidão com sensibilidade. O filme nos convida a refletir: por que buscamos tanto nos conectar com o desconhecido quando, muitas vezes, ignoramos quem está ao nosso redor? Elio sente-se isolado, sem amigos, incompreendido pelos outros e distante da tia, que ele acredita ter abandonado sua carreira promissora para cuidar dele. Com essa carga emocional, ele embarca literalmente para fora do planeta em busca de acolhimento, apenas para descobrir aquilo que mais desejava — ser aceito, ter amigos e se sentir importante — já estava presente na Terra, ao seu redor. Esse ponto talvez seja o destaque mais tocante do filme: mostrar, de forma simples e comovente, que pertencimento não se encontra necessariamente em outro mundo, mas no reconhecimento do valor das relações que temos. Elio nos lembra que, mesmo em meio a um universo cheio de possibilidades, nosso lugar pode estar exatamente onde estamos — só precisamos olhar com mais atenção.

* Lucas Figueiredo é estudante do Curso de Cinema e Audiovisual da UFPA.


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