Crítica do filme Capitão América: Admirável Mundo Novo

Por Richerd Antunes /

Capitão América: Admirável Novo Mundo é a quarta sequência da história que aborda o herói do Universo Cinematográfico da Marvel. A trama da obra segue Sam Wilson, antes Falcão e agora o novo Capitão América, depois dos eventos de Eternos e Falcão e o Soldado Invernal. Carregando o escudo e a responsabilidade de Steve Rogers, Sam busca honrar o legado e luta para ser aceito como o novo herói. No meio disto, a humanidade descobre um novo material superior ao Vibranium a partir de Tiamut, Celestial que emergiu no oceano: o Adamantium. Todos os países do mundo, com a descoberta, se encaminham para fazer um acordo a fim de possibilitar o uso mais eficiente e universal deste material, evitando capitalização e o democratizando para toda a humanidade. A história também foca no cenário político do mundo pós-vingadores, com presidente Ross – antes general do Estados Unidos –, em seu mandato, tendo como objetivos selar o acordo com os países do mundo, recriar os Vingadores para seu próprio controle com a ajuda de Sam e lidar com os problemas do seu passado conturbado e arrependimentos.

Seguindo a fórmula Marvel dos filmes pós-Ultimato, mas também embasando-se nas produções anteriores de Capitão América, esta quarta encarnação nos traz uma história mais centrada no mundo e eventos ligados à política mundial. A crise global que se instaura, com uma nova ordem mundial sendo formada. Governos autoritários e a luta por poder criam uma tensão internacional. Diante disso, gerando também questionamentos para Sam, que pondera ao afetar sua moral heroica, agora que é uma figura central e carrega o manto de Capitão.

A trama do filme tem uma base firme que se ampara em produções anteriores, graças ao universo compartilhado. Após 17 anos desde O Incrível Hulk (2008), primeiro filme do UCM, Capitão América 4 nos traz elementos e personagens daquela obra para explicar pontas soltas e faz uso de seus recursos, como o passado de Thunderbolt Ross, o cientista Samuel Sterns e o sangue de Bruce Banner. A presença também de Tiamut, o Celestial no oceano do filme Eternos (2021), é um dos focos mais importante do filme, sendo o espaço para uma das sequências de ação mais importantes. Os personagens também possuem seus momentos. O equilíbrio entre a trama de cada núcleo e arco de personagem com a trama geral é, em alguns momentos, desbalanceado. É perceptível graças a duração do filme e a profundidade dos arcos, sendo necessário mais de um filme para ser concluído. Um exemplo a ser citado é o do próprio Ross, que mesmo depois de todos os eventos do filme, ao final da obra, deixa a entender que terá um papel ainda mais relevante e assuntos a resolver em possíveis sequências.

Nem todas as subtramas do filme são de interesse do público, prestando-se apenas a preencher tempo de tela, em vez de despertar curiosidade. Outras são mal aproveitadas, como Seth Voelker, um mercenário contratado pelo vilão, que aparece em alguns momentos do filme, sendo estes apenas de ação com Sam. Interpretado por Giancarlo Esposito, era de se esperar que o personagem tivesse um grau de importância e uma abordagem mais aprofundada, mas infelizmente apenas é resumido a um mero antagonista que dá dicas ao protagonista de onde pode estar o vilão. Além disso, o arco principal de Sam, e suas dúvidas de ser o Capitão América, também é repetitivo. Trazendo novamente aquele questionamento sobre seu novo papel: será que ele é capacitado? O espectador é novamente colocado, junto com Sam, nessas dúvidas. O problema em questão não é quanto aos questionamentos, mas como o filme os transmite. Em muitos momentos, Sam expressa de maneira direta suas inseguranças e incertezas como o novo Capitão. Isso leva a crer que o espectador, mesmo tendo o mínimo de lógica, não consiga captar essas informações sem que o próprio roteiro explique, pois o filme precisa informar sempre. A longo prazo, faz da obra algo muito superficial e não permite uma apreciação maior por quem assiste, pois tudo sempre está bem esclarecido.

As cenas de ação do filme, em dados momentos, são estonteantes, abordando momentos e situações jamais vistas antes. Um exemplo a ser citado é a batalha no oceano. Japão e Estados Unidos estão na ilha Tiamut para extraírem o Adamantium. Entretanto, por conta de caças dos Estados Unidos estarem disparando contra as tropas do Japão, este se vê na necessidade de reagir, lançando mísseis em direção aos navios norte-americanos. Neste momento, cabe a Sam e seu parceiro evitarem a chegada deles, ocasionado uma possível guerra. A sequência, como um todo, é composta por efeitos visuais impressionantes e uma coreografia espantosa. Os diferentes ângulos da câmera, ações dos personagens, efeitos computadorizados e sonoros deixam o espectador absorvido e alvoroçado, pois a dinâmica da ação é bem coordenada e sua conclusão é satisfatória.

Infelizmente não é possível dizer o mesmo das cenas de ação corpo a corpo. Muitos dos momentos de confronto direto, as lutas parecem ser coreografadas e artificiais, transmitindo um sentimento de perceptível de que, mesmo com o confronto, nosso protagonista e antagonistas conseguirão ser capazes de superar seus adversários. Um exemplo e se citar é da personagem Sabra, ex-Viúva Negra. Em um dado momento, em um corredor, Sam e seu parceiro estão encurralados por soldados e Sabra aparece para ajudá-los. Ao entrar em ação, a sequência é terrivelmente mal coordenada e as coreografias mal executadas. O desfecho é decepcionante, com a finalização sendo totalmente artificial. Mesmo na atuação dos atores, o qual em certas situações são péssimas, é perceptível a ilusão que ocasiona a quebra de imersão e gera um momento desconfortante. Os planos também são rasos demais e nítidos, com uma montagem rápida sempre ambientando o espectador sobre o que ocorre enquanto os atores respondem ao combate. No geral, não são momentos aprazíveis e poucos são aqueles que geram algum sentimento de euforia.

O visual da obra, em geral, é bem executado. As locações, roupas e escolha de cores para as cenas são apropriadas e transmitem o que querem. A direção visual cria uma atmosfera de seriedade. O espectador consegue sentir que o filme trata de um assunto que é comum no mundo real: política. Os momentos de diálogo com o presidente Ross e Sam em uma sala particular, o laboratório do vilão, a luta final com o Hulk Vermelho na Casa Branca e na floresta de cerejeiras, os efeitos especiais, design de cenários e figurinos conseguem expor bem o que se passa no universo do filme.

O filme tem como base, em sua trama, a política mundial e a questão do papel dos super-heróis na sociedade. Ross reacende novamente o argumento da responsabilidade dos heróis para com seus governos e povo: eles são necessários? E se são, o governo deve atuar junto deles ou reprimir? Essas e mais questões surgem e ecoam a discussão antes vista em Capitão América: Guerra Civil (2016): autoridade, liberdade e segurança. Será que Sam conseguirá conciliar bem suas responsabilidades como Capitão ao mesmo tempo que entende que, ser herói, é além de um título, uma representação de altruísmo e benignidade sem distinção? Com o controle do governo, esses valores de ser herói tornam-se burocráticos e limitam-se em diversos critérios, e é nesta questão que Sam se apoia durante o filme.

O racismo e representatividade também são assuntos tratados em Capitão América 4, dado que Sam Wilson é um Capitão negro e, graças a isso, o filme tem oportunidades de abordar essas questões raciais e de representação, enquanto tenta se tornar o “herói idealizado” dos Estados Unidos baseando-se no legado de Steve Rogers. Sam, muitas vezes, se vê desqualificado e incapaz de assumir o manto. Entretanto, é nesses momentos que seu apoio é manifestado, pois não se trata apenas do título, mas de quem o carrega. O filme transmite bem esses assuntos e, no seu alcance, consegue conduzir e retratar os conteúdos de modo competente.            

Capitão América 4 é um filme mediano, com elementos bem encaixados e outros nem tanto. Felizmente não sofre do mesmo mal de todas as obras que vieram após Vingadores: Ultimato (2019), se sobressaindo e usando de recursos dos filmes anteriores do Capitão, enquanto aborda temas contemporâneos e faz uso da ação habitual do UCM. Seus efeitos especiais conseguem ser bons depois de tempos sem muito capricho e sua história é relativamente decente. No mais, é um filme regular, não se destacando muito e mantendo-se no razoável sem arriscar demais.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *