Por Rennan Oliveira*

Em 2022, a produtora Blumhouse lançou o filme M3GAN, um terror com a premissa de uma boneca com inteligência artificial criada para ser uma acompanhante de crianças, mas que, por um erro de sistema, começa a matar seres humanos e até um animal. O plano inicial era criar uma franquia de terror focada nessa boneca assassina. No entanto, esse plano tomou outro rumo quando a personagem se tornou um meme viral na internet, transformando-se em um ícone para todos os públicos, e não apenas os fãs de terror. O vídeo da personagem dançando, presente no trailer, foi amplamente compartilhado nas redes sociais, o que criou uma aura em torno da personagem e a deslocou da imagem de vilã de um filme de terror, tornando-a uma figura cultuada pelo seu jeito audacioso e ácido, características que atraíram uma fanbase dedicada. Diante dessa mudança de imagem, os produtores precisaram repensar como manter esse ícone vivo. Com isso, em 2025, é lançado M3GAN 2.0, a continuação do aclamado primeiro filme, que traz de volta a personagem ainda mais audaciosa e ácida do que nunca.
No novo filme, acompanhamos a vida de Gemma (Allison Williams) e de sua sobrinha Cady (Violet McGraw) após os trágicos eventos do primeiro longa. Agora, Gemma está trilhando uma carreira como palestrante sobre o uso correto de inteligências artificiais e os problemas decorrentes do uso indiscriminado desses sistemas em novos dispositivos do mercado, que abusam de sua facilidade, mas ignoram os riscos que podem surgir. Enquanto desenvolve essa carreira, ela tenta equilibrar sua vida pessoal, cuidando em tempo integral de sua sobrinha e fazendo o possível para mantê-la em segurança, ao mesmo tempo em que continua trabalhando com seus antigos colegas.
As coisas começam a sair do controle quando uma nova androide, chamada AMELIA, surge e passa a assassinar pessoas ligadas à sua criação. As pistas acabam levando até Gemma, devido a documentos confidenciais sobre a M3GAN que foram roubados e utilizados no desenvolvimento dessa nova androide. Para a surpresa de todos, quem surge para proteger Gemma e Cady é a própria M3GAN, que havia feito um backup de si mesma no sistema da casa e, desde então, estava secretamente cuidando de Cady, mantendo a função de proteção que lhe havia sido designada no primeiro filme.
O filme segue por um caminho bem diferente do seu antecessor, que apresentava uma história mais clássica dos filmes de terror, com os tropos da boneca assassina e a desconfiança quanto à sanidade dos personagens, que não sabiam se a boneca estava realmente causando tudo aquilo ou se era apenas fruto de suas imaginações. Nesta continuação, a narrativa se aproxima de um padrão típico de filmes de ação, em que uma ameaça surge causando problemas e é necessário que um herói apareça para salvar a humanidade. Aqui, o herói é M3GAN, que se alia a Gemma e aos seus amigos, e juntos constroem um novo corpo — mais resistente, mais rápido, mais poderoso (e mais alto) — para que ela possa enfrentar a nova androide.
Nesse segundo filme, percebe-se que o diretor teve bastante cuidado ao inserir a M3GAN na trama, já que, por mais que ela seja uma figura importante, há um enredo que vai além dela: a discussão sobre a regulação do uso das inteligências artificiais. O diretor utiliza a androide vilã como exemplificação do problema central, o que, à primeira vista, pode parecer um recurso narrativo simples, mas que é bem aplicado de forma geral, pois cumpre a função de reforçar a mensagem proposta pelo filme. Além disso, a androide é uma ótima personagem, que traz uma carga dramática e de ação nos momentos certos, contribuindo para o equilíbrio do longa.
Com cenas de luta bem coreografadas, o filme nos transporta para um universo à la Missão Impossível, com M3GAN assumindo o papel de uma espécie de Tom Cruise, capaz de tudo para completar sua missão final. Usar uma katana, pular de uma montanha e lutar com as próprias mãos são apenas algumas das ações que o filme apresenta, e o faz de forma eficaz, impressionando pela maneira como as sequências de combate são conduzidas, especialmente nas cenas com a androide, cuja movimentação é marcada por uma fisicalidade única e bastante específica.
Como no primeiro filme, a personagem M3GAN continua sendo bastante única e chama a atenção sempre que está em cena, principalmente por conta de seu complexo de superioridade e do cuidado que demonstra por Cady. Esse cuidado é novamente colocado em jogo neste segundo longa, o que levanta o questionamento: M3GAN está protegendo Cady por causa do código programado em sua inteligência artificial ou porque realmente sente afeto por ela? Essa dúvida aprofunda ainda mais a personagem, que antes era vista apenas como um robô ríspido e assassino.
Por fim, M3GAN 2.0 é um filme de ação com uma narrativa bastante comum, mas que consegue atingir seu público-alvo seja por aqueles que assistem pelo carisma da M3GAN, seja por quem busca uma aventura leve de duas horas. Trazendo novidades para o universo cinematográfico da Blumhouse, o filme apresenta cenas memoráveis, como o momento em que M3GAN canta para Gemma. Assim, M3GAN 2.0 se consagra como uma sequência eficaz, capaz de agradar tanto os fãs da personagem quanto os apreciadores de filmes de ação.
* Rennan Oliveira é estudante do Curso de Cinema e Audiovisual da UFPA.
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