Por Tainá Araújo Simões /

Meio Éden é um filme de ficção de 2023 escrito e dirigido por Clara Estolano da Universidade Federal de Juiz de Fora e acompanha uma mulher que está sofrendo com a ausência de seu marido ou apenas aparenta estar. O filme começa mostrando a casa e fotos do casal espalhados pelos cômodos com uma ligação em off de seu marido avisando que está voltando para casa. Logo em seguida, aparece uma mulher sentada ao chão, encostada na cama com um olhar vazio. Com o decorrer da narrativa, a personagem apresenta um sentimento melancólico, sendo aparente em alguns momentos um pouco de raiva, e ao final do que seria uma história sobre luto ou solidão, descobrimos que, na verdade, foi a própria esposa quem matou seu companheiro.
O filme começa com uma narrativa ambígua. Sabemos que o marido não está mais presente, mas não sabemos o que aconteceu, o que nos leva a pensar em várias possibilidades. A narrativa é conduzida em duas partes, começando de um ponto de vista de uma trama mais dramática, mostrando uma rotina solitária com uma mulher que sente com a ausência de seu marido e, de forma sutil, muda para um caminho mais tenso. Pequenas dicas deixadas ao longo do filme, como o corte na testa e quando ela joga a escova de dente e as flores fora, mostram essa virada no modo como vemos a história.
Tratando de quesitos mais técnicos, Meio Éden possui uma fotografia bela e que combina com o tom da narrativa. A câmera fixa e os enquadramentos que focam em mostrar as expressões e os detalhes do cenário nos ajudam a acompanhar o estado emocional da personagem, assim como contribuem para a mudança de uma atmosfera dramática para uma de suspense. O mesmo vale para a arte que compõe um cenário simples e praticamente vazio, mas que se atenta aos detalhes e que aparenta espelhar o estado melancólico da personagem.
O filme é repleto de planos longos e contemplativos, que, por um lado, servem como fator para criar tensão nas cenas, nos fazendo ficar na espera de que algo aconteça. No entanto, com o passar do tempo, a narrativa começa a se tornar cansativa, especialmente porque, ao longo do curta, pequenas dicas sobre o que está por vir são deixadas, o que torna a expectativa cada vez mais previsível, tornando os planos longos um pouco excessivos e contribuindo para a lentidão da trama, que se arrasta durante os quase 20 minutos de duração.
Acho que o fator principal do filme é mostrar que nem tudo é o que parece. De uma maneira lenta, mas bem construída, o curta-metragem mostra que, por trás da aparente solidão e luto, se esconde algo mais sombrio. A direção de Clara Estolano consegue, de forma habilidosa, criar uma atmosfera densa e ambígua, que vai revelando camadas da personagem principal até o momento final. Meio Éden é uma reflexão sobre as aparências e sobre como a dor, o amor e o ódio podem se entrelaçar de formas inesperadas. Portanto, o curta nos desafia a questionar nossas próprias interpretações e a olhar mais profundamente para o que está oculto sob a superfície.
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