Por Lucas Koury /

Disputa e torcida no jogo político são reimaginadas em analogia ao futebol no documentário No Meio de Campo, trabalho de conclusão da Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza, dirigido por Vinicius Menezes.
Ao rememorar os eventos históricos das eleições presidenciais de 2022, o filme ressalta o aspecto popular da disputa política. Entre pólos opostos, uma nação precisava fazer uma escolha determinante para o seu próprio futuro. A complexidade da trama política e a seriedade do assunto desenham um retrato bem diferente do filme que assistimos. Isso não é nenhum demérito. É a prova mais evidente que o filme está firmemente enraizado na realidade brasileira.
A escolha por mesclar as narrações de jogos da copa do mundo com manifestações e eventos políticos revela as semelhanças de comportamento entre eleitores e torcedores. Essa similaridade é tão forte que a narração serve como fio condutor, conectando as mais diversas imagens de forma coesa.
No início, temos as bandeiras nas janelas e os torcedores nos bares. Com a torcida reunida, ouvimos de um lado provocações e do outro xingamentos. Apita o árbitro e os candidatos vão às cabines registrar o seu voto. Ao anunciar o segundo turno, um jogador acalma sua torcida, assegurando que só será uma prorrogação. E assim vai, com direito a retaliação do time perdedor no Palácio do Planalto.
Dessa forma, o filme não somente reúne e preserva imagens importantes, como a invasão do Palácio do Planalto e a emoção dos eleitores vitoriosos, mas imprime nelas uma narrativa envolvente capaz de alcançar o próprio público que protagoniza essa história. Durante o filme, a audiência se conecta com a realidade crua apresentada na tela. Mais do que isso, cria-se um sentimento de união na sala de cinema, onde o público ri e se emociona ao mesmo tempo.
A despeito de toda a sua qualidade, é possível confundir o documentário com uma recapitulação estilizada. A sutileza da sua crítica, outro mérito do filme, é responsável por isso. Talvez a frase de Nelson Rodrigues “No futebol, o pior cego é o que só vê a bola”, que aparece no começo do filme, pode ser esquecida pelo público ao final. O sentido da frase e a sua importância no contexto se torna muito mais clara após o filme.
O cinema universitário sem dúvidas se enriquece com essa contribuição atenciosa e bem executada. A montagem pensada a partir da forma de um jogo de futebol não só eleva a crítica do filme, mas também permite a reunião de vídeos orgânicos que poderiam ser perdidos no oceano de conteúdo da internet. No Meio de Campo mostra a realidade mais crua na forma de um espetáculo.
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