Crítica do filme Coaxo

Por Milene Rose /

‘COAXO’ é o título do curta-metragem de animação em stop-motion de Cecilia Silva Martinez, que conta a história de um simpático sapinho fazendeiro que acorda em seu pequeno vilarejo para mais um dia de trabalho. Com seu chapéu de palha, sua jardineira jeans e seu bom humor, ele colhe seus legumes, pesca em sua lagoa e aproveita a natureza ao redor cochilando após um entardecer inteiro de trabalho. 

Ao despertar de seu sono de descanso, um barulho de rastejo em meio a vegetação local chama sua atenção. Ele acaba por seguir o barulho, tentando descobrir de onde vem. Seguindo mata adentro, pouco a pouco aquela sensação de ser observado pelo desconhecido o deixa apreensivo, com medo. Ele puxa do bolso de sua jardineira uma colher, a qual aponta para o grande monumento que se sacode a sua frente, cobrindo o luar. Ele recua dando pequenos passos para longe da coisa, mas a gigante cabeça de uma cobra cascavel está parada logo atrás dele, e somente aí ele a percebe. A narrativa se encerra beirando aos 3 minutos de seu esplendor e simpatia com o gentil sapinho fazendeiro se esquentando em uma fogueira, dentro do que parece ser o interior da tal cobra, junto de seus trapinhos pendurados em um varal improvisado. 

Henrique Lima assina a direção de arte e a direção de animação com total leveza e saudosismo, e que nos leva para um lugar que nos resgata desenhos da nossa infância, ao qual intencionalmente ou não, acabamos por relembrar após assistir a obras como “COAXO”. A caracterização do sapinho protagonista por momentos nos lembra a persona de “Rango” (2011), um camaleão de estimação da cidade grande que, por acidente, acaba por parar no deserto de Mojave, na Califórnia. 

O curta também nos remete a demais obras que utilizam do stop-motion de maneira similar enquanto a sua estética, como na série “Hello Kitty: Vila Da Floresta” (2004), animação em argila dividido em episódios e que não conta com diálogos, apenas a narração das histórias a cada capítulo. Assim como “Hello Kitty: Vila Da Floresta”, “COAXO” não apresenta diálogos, mas diferente da obra citada, também não há uma narração em voice over. A narrativa animada por si só nos revela os momentos e acontecimentos em seu devido tempo – tempo este bem aproveitado em um curta de somente 4 minutos, sendo pelo menos 1 minuto deste dedicado aos créditos finais do projeto. 

Contando com uma trilha sonora e ambiência – assinadas por Otávio Vassão – que juntas nos acompanham quase que lado a lado ao sapinho fazendeiro, o filme guia com maestria a direção de som, construindo momentos de tranquilidade por meio da sonoridade e trilha, mas também de tensão presentes no enredo, além do trabalho de foley somado aos adereços da direção de arte, todos presentes de maneira delicada e fiel a proposta artística apresentada desde os primeiros segundos do projeto. 

Assim, “COAXO” se destaca não somente pela execução plena e muito bem trabalhada ao longo de seus aconchegantes 4 minutos, mas pela naturalidade e originalidade que um sapinho de chapéu, sua fazenda e um desfecho devorado – porém quentinho – podem nos trazer.


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