por Denize Ramos de Araújo /

No cenário universitário, o filme escrito e dirigido por Giovana Padovani é bastante “Fora da Caixa”. O curta-metragem narra um período na infância de Elisa, interpretada por Clarice Gripp nessa fase que, durante o retorno da escola, conhece Felipe (Eric Brandão) em um parque e se tornam grandes amigos. Contudo, a forte amizade acaba prejudicando as notas da menina que se vê obrigada pela mãe a se afastar de sua nova amizade.
Já adulta, Elisa, agora interpretada por Alana Guedes, se muda para um apartamento e questiona a veracidade de suas memórias. O roteiro é bastante simples e raso em alguns momentos. De início, a construção da amizade dos protagonistas me pareceu bem simples e pouco elaborada. Contudo, é de se levar em conta que a amizade entre crianças se dá de forma tão ou mais simples que essa. Nesse primeiro segmento, a direção de arte é bem elaborada e eficiente e transmite um mundo infantil. Detalhes como os objetos de cena do quarto, o uniforme da escola e os adereços são muito bem feitos.
Entretanto, o que se sobressai são as sequências onde os desenhos de Elisa são animados e introduzidos em certas cenas para ilustrar o sentimento que ela está passando. A direção constrói planos seguindo bem a cartilha de filmes infantis e rebaixa a câmera ao ângulo de visão, para enxergarmos o mundo como Elisa o vê. A trilha sonora é muito bem aplicada, embora os efeitos sonoros poderiam ser mais presentes. A presença de Felipe é quase mágica, o garoto aparece e some como um amigo imaginário, em dado momento até mesmo surge no quarto de Elisa para brincar e desaparece sem deixar rastros. Isso nos induz a imaginar que sua presença não é real, pois nenhum outro amigo de Elisa de sua idade é mostrado.
Os personagens interpretados por Vinícius Cristóvão, José e Carol Gerliein (professora de Elisa) possuem pouco tempo de tela, embora saibam fazer bom uso desse tempo quanto a sua interpretação. Já Mônica, a mãe de Elisa, interpretada por Sandra Almeida, desempenha muito bem o papel de contraste entre o pragmatismo da vida adulta e a inocência da infância. Na segunda parte do curta, acompanhamos Elisa já adulta, com Alana Guedes nos entregando uma Elisa sem o mundo colorido a sua volta. A arquitetura do espaço e o branco dominante do quarto me lembra bastante a arquitetura moderna, nem um pouco atrativa para as crianças.
Diante da vida adulta e longe da mãe, a protagonista se questiona – assim como nós – se Felipe alguma vez foi real. Em um museu, rodeada de obras de artes abstratas, Elisa se encontra ao lado de alguém com os mesmos sapatos de Felipe. Talvez seja a imaginação da criança Elisa tentando dar cores a sua vida adulta. Em última análise, “Fora da Caixa” revela-se uma obra cinematográfica que vai além das expectativas convencionais, oferecendo uma jornada única através da infância, amizade e reflexão sobre a realidade das nossas lembranças. A simplicidade do enredo é compensada pela riqueza na construção visual e sonora, proporcionando uma experiência sensorial profunda.
A dualidade entre a vida vibrante da infância e a monotonia da vida adulta é habilmente explorada, com destaque para a interpretação cativante de Alana Guedes e a presença enigmática de Eric Brandão como Felipe. Ao questionar a veracidade das memórias e explorar a imaginação que permeia a transição para a idade adulta, o filme de Giovana Padovani deixa uma impressão duradoura, convidando os espectadores a contemplarem a magia que reside nos recantos mais profundos de suas próprias experiências.
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