Por Antonio Moura

“Ecos da Rua” é um curta-metragem documental dirigido por Lucka Saballa Lemos e produzido por Gabrielly Pires de Aguiar, que leva o selo da Universidade Feevale do Rio Grande do Sul.
A proposta do filme é compilar várias entrevistas de moradores de rua, que, mesmo compartilhando a mesma situação social, possuem histórias, condições físicas, experiências de vida e círculos sociais consideravelmente distintos. Tendo eles a absoluta liberdade em discorrer, sem restrições, sobre o que desejam falar.
A obra acerta majestosamente em se manter fiel à sua proposta durante cada segundo de exibição. Os entrevistados comandam o rumo da narrativa e a montagem é cirúrgica em ritmar e conectar os relatos, permitindo assim que o espectador não apenas os conheça individualmente, como também se transporte para outros relatos sem confusão – podendo compará-los e se manter sempre engajado no conteúdo mostrado. A fotografia e o som foram devidamente registrados e se adaptam aos diferentes cenários das entrevistas, exibindo o essencial com a nitidez almejada e compensando empecilhos que poderiam prejudicar o todo.
O filme poderia mudar a tipografia principal do título e possui alguns momentos em que a trilha sonora musical poderia soar anacrônica, contudo, tais aspectos não prejudicam em nada a experiência. Afinal, a segunda maior virtude desse projeto – quiçá a maior virtude de sua forma –, provém das reflexões instigadas pelo mesmo referido. Não se oferece mais um documentário sentimentalista superficial de um determinado grupo social em situação de risco, e sim, um retrato sóbrio e verossímil de uma realidade sempre vista, majoritariamente desprezada e quase nunca ouvida. Os olhos e ouvidos mais atenciosos e refinados podem detectar um autêntico cri de coeur potencializado pelo aparato cinematográfico, não falso ou dramatizado, mas sincero.
Em suma, “Ecos da Rua” é um filme perfeitamente consciente de sua técnica e forma, propoedor de uma rica e sólida perspectiva a respeito de um tema de grande relevância social e está disposto a levar seus espectadores para além dos 18 minutos de sessão.
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