Crítica do Filme Makena

Por Jean Guilherme Ramos Belo /

Mesmo para aqueles que consomem religiosamente o cinema, sempre haverá um gênero que não será dos mais apreciados. Sendo criado com filmes de ficção, essa é a descrição da minha relação com filmes experimentais. Dessa forma, a experiência vendo “MAKENA” foi interessante e também desafiadora, como todo bom filme deve ser capaz de provocar ao espectador. O curta-metragem, dirigido e escrito por Arno Bukanowsky, é uma vídeo-performance que poderia muito bem ser categorizada como um videoclipe. A tela inicial nos dá a descrição dos eventos que serão encenados durante os 7 minutos: Trata-se da representação da história de Makena, uma elefanta resgatada no Quênia, na sétima semana de vida, sem mãe, possivelmente morta devido à caça em busca do marfim. Em fase adulta, a órfã elefanta deu à luz a um filhote chamada “Mumo” que também faleceu. O filme então retrata a jornada de Makena em 3 partes: A gravidez, o relacionamento com seu filhote e sua perda, culminando no fatídico “choro de Makena”. 

Na primeira parte temos a performance de Rayssa Dandara como a protagonista. Não há uma maquiagem elaborada, ou figurino que busque aproximar a atriz do que imaginamos ser um elefante. Em vez disso, o diretor foca exclusivamente no caráter performático do corpo. Com movimentos fortes e bem marcados se intercalando com planos detalhes de mãos quase simulando a tromba do animal, a atriz é bem precisa em transmitir tanto a felicidade da personagem, como a dor do parto. Diante do “minimalismo”, a edição e montagem são bem inventivas para retratar o nascimento de Mumo, interpretada por Michele Aguiar. Então, somos apresentados à relação entre mãe e filha; os planos detalhes começam a ganhar mais espaço e os “close-up” das duas atrizes surgem. Há uma forte sensação de ligação entre as duas, principalmente de felicidade, pontuada pela fotografia realizada pelo também diretor. Nesse segmento, no entanto, as expressões faciais das atrizes não conseguem se igualar em qualidade aos movimentos do corpo, prejudicando bastante a cena de morte de Mumo; ambas as atrizes não atingem o nível de atuação necessário para transmitir a dor da perda. O terceiro ato lida com a dor do luto. A fotografia, tão otimista nos dos primeiros atos, agora busca no preto e branco o pessimismo. A trilha sonora envolvente abandona o curta, uma nova surge, embora genérica, eficiente em transmitir a dor. Nesse momento, temos as imagens mais oníricas até então; realmente podemos afirmar que a vida de Makena se tornou um pesadelo. A atuação cresce exponencialmente; a expressão de tristeza da protagonista contrasta perfeitamente com o significado de seu nome na língua Kikuyu, feliz. O choro de Makena é bastante doloroso de se assistir. Os dois últimos planos são extremamente simbólicos: em primeiro plano a protagonista em volta da melancolia e ao fundo uma figura desconhecida. Seria sua mãe ou Mumo? Independentemente, o plano posterior retrata Makena sozinha no mundo mais uma vez. Ao final, somos lembrados do trabalho desenvolvido pela “Sheldrick WildLife Trust” em proteger as espécies no Quênia e uma imagem real de Makena e Mumo. Em resumo, em aproximadamente 7 minutos, Makena é uma jornada bem executada; partindo da felicidade até a aflição.


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