Por Louise Di Fátima

“Côncavo” é um curta-metragem experimental com duração de 7 minutos, dirigido e escrito por Eduarda Falesi e Gabriel Darwich em 2021. De acordo com a descrição da obra no canal da Ondina Studio no YouTube, o filme explora o período de enclausuramento e a confusão temporal gerada pela pandemia, proporcionando uma oportunidade de exploração do eu. Como obra experimental, “Côncavo” permite diversas interpretações, cativando o sensível e o imaginário do espectador.
Os ponteiros do relógio introduzem ritmo, o que é habilmente incorporado à montagem, liderada por Gabriel Darwich, criando uma experiência auditiva notável. A cenografia desempenha um papel vital na narrativa, com a disposição minuciosa dos objetos no espaço. Alguns deles estão à margem do quadro, outros posicionados de forma invertida, criando uma atmosfera de caos organizado. A imagem revela múltiplos ângulos de um espaço repleto de objetos diversos, onde não há lugar vazio. Apesar disso, ao mesmo tempo a solidão se faz presente.
Através dos minutos que não passam, emperram, retornam, testemunhamos a personagem, interpretada por Eduarda Falesi, explorando espaço de diversas formas, desafiando as restrições do tempo. Seu figurino se assemelha bastante a cor dos ponteiros. É como se ela fosse o ponteiro principal e o local o próprio relógio. Ela explora o tempo a fim de conseguir embarcar nessa jornada de autodescoberta, passeando por todos os possíveis lugares desse cenário controlando o tempo para explorar seu labirinto de memórias.
A dança se torna o dispositivo para sua busca exploratória, utilizando a linguagem das expressões corporais em sintonia com a trilha sonora composta por Luiz Pardal, evocando um sentimento de liberdade até que a música é interrompida momentaneamente pelo som dos ponteiros do relógio, lembrando à personagem e ao espectador que o tempo está passando.
Um elemento notável que merece destaque é a forma como o filme lida com a representação do rosto da personagem. Em todo o filme, seus cabelos escondem sua face e a única vez que vemos parte de seu rosto é quando ele é refletido no espelho. O rosto dela nunca é diretamente revelado ao espectador, criando um suspense e um mistério constantes. Seu verdadeiro eu é representado apenas nos reflexos dos espelhos, criando uma complexa reflexão sobre a identidade. No momento em que imaginamos que finalmente veremos seu rosto, o espectador é levado a esperar ansiosamente o momento da revelação, que, por fim, ocorre no encerramento do filme, deixando uma impressão duradoura.
“Côncavo” é uma representação profunda do isolamento durante a pandemia, explorando soluções criativas de produção e narrativas que ressoam com as crises existenciais enfrentadas. É um filme inspirador para o espectador em geral que passou por um período desolador, marcado pelas perdas (não só de entes queridos mas como de si mesmo) causadas pela pandemia da COVID-19.
Deixe um comentário