Por Sara Ribeiro Lima /

Como Adivinhar Memórias, de Érico José (UFG) é um filme experimental de 3 minutos e 23 segundos. E é simples. Porém, ser simples não significa ser ruim, ou que não seja capaz de despertar sentimentos. A primeira coisa que nos captura ao assistirmos é a trilha sonora que remete ao synthpop, new wave, dark rock, compondo uma belíssima camada que acompanha o que aparentemente seria um sonho estranho. Nesse ambiente onírico, passeamos por uma variedade de ambientes em que o destaque vai para a exploração das iluminações e ângulos. Às vezes causando a sensação de assistir a qualquer programa de televisão antigo, durante a noite/madrugada.
As imagens aparentemente capturadas com equipamentos antigos (ou editadas para parecer assim) remetem a um comercial da famosa MTV nos anos 90/2000, ou reportagens de domingo à noite no programa Fantástico. Sempre despertando a sensação de um desconforto, um incômodo sem que se saiba explicar muito bem o que é ou de onde vem; mais uma vez, destaco como a trilha sonora contribui de forma bela para esse aspecto. Ela amarra o filme, hipnotiza, desperta sensações e sentimentos.
O tempo do filme é perfeito. Três minutos ideais para experimentar, prender, incomodar e envolver. Não há longas imagens estáticas que geram cansaço no espectador, mas sempre uma curiosidade culposa. A fotografia e montagem também se destacam aqui, com iluminação, cores e uma linha condutora que não deixa a atenção esvaecer.
Estamos presos em um sonho desconfortável, do qual não somos capazes de sair; conhecemos personagens que nunca entenderemos quem são, mas sabemos o que querem dizer, como quando o grande coelho vermelho (as cenas com ele são as melhores) rasga um livro, ou queima um coração de papel e o fogo ultrapassa o cenário e invade a tela.
Talvez o maior problema seja a lacuna que fica do título sem resposta do filme. Afinal, como adivinhar memórias? É provável que, como o coelho vermelho do filme, seja melhor rasgá-las ou queimá-las. Ou, para ouvidos atentos às poucas vozes do filme, lançar o baú das memórias barranco abaixo.
Algumas características a serem aproveitadas certamente são a ousadia no estilo e nas mensagens subliminares. Seria repetitivo citar a qualidade musical. Mas, talvez, um cuidado maior com a escolha das imagens (já que algumas delas parecem muito soltas dentro do contexto de ambiência do filme), ângulos, colorização tornasse a experiência um pouco mais sofisticada.
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