Crítica do curta Zé Onça: Relatos de uma Memória

Por Louise Di Fátima /

No cenário desafiador da pandemia, muitos criadores e artistas se viram diante de limitações significativas, mas também oportunidades únicas para explorar novas formas de expressão. “Zé Onça: Relatos de uma Memória” (2021) é um exemplo disso, onde o diretor Túlio de Melo cria um curta-metragem que não apenas se adapta às restrições impostas pelo distanciamento social, mas também se aprofunda nas riquezas das histórias familiares. Este filme mergulha nas águas profundas dos rios do Tocantins, acompanhando um dia de trabalho de Zé Onça, pai de Túlio e personagem principal dessa narrativa. 

O filme é registrado nos cenários naturais dos rios da região, oferecendo uma experiência visual deslumbrante, destacando a beleza da natureza dos rios do Tocantins, explorando não apenas a pesca como uma atividade diária mas também proporcionando uma visão única de Zé Onça, através de suas memórias.

Criar uma narrativa significativa a partir de memórias pode parecer uma tarefa fácil, mas a complexidade está em descobrir o que realmente ressoa com o público e como tornar essas histórias envolventes. Com a contribuição da Inteligência Artificial, por exemplo, Túlio de Melo contribui para narrativa com a restauração e animação de fotografias e fotopinturas antigas da família. A utilização da inteligência artificial se torna um meio de criar uma ponte visual entre o passado e o presente, enriquecendo a narrativa. 

Zé Onça, relata que viveu uma parte da sua vida isolado com sua família conhecendo tardiamente as inovações urbanas: como carros, caminhões e aviões. Isso o fez sentir-se como um “índio” diante do desconhecido. Situação que demonstra como foi construída sua infância em Goiás. Se revelando uma realidade dolorosa: apesar da abundância de irmãos, a solidão permeia a vida de Zé Onça. Seu pai, que se casou e uniu-se muitas vezes, não manteve relações próximas com todos esses irmãos. Seu apelido foi dado por uma situação complicada na infância, onde sem querer acabou machucando um amigo e sendo chamado de “amigo da onça” por sua professora na época que disse para esse amigo se afastar dele, por conta do ocorrido. Seu apelido permaneceu até os dias atuais, porém isso tudo, se reflete em um cenário de desconexão e ausência que refletem suas atividades como um pescador solitário. 

“Zé Onça: Relatos de uma Memória” é mais do que um simples registro da vida de um pescador. É uma jornada poética que transcende o tempo e o espaço, capturando a essência da vida de Zé Onça e as lições preciosas que ela oferece. É uma obra que ressoa com a busca pela conexão em tempos conturbados, como o isolamento social trazido pela pandemia. Túlio de Melo entrega ao público uma experiência que transcende a tela e convida a reflexões sobre a importância das histórias que carregamos e a criatividade que pode surgir mesmo nas circunstâncias mais difíceis.


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