Por Tainá Araújo Simões /
Linda Linda Linda (2005) traz a história de uma banda chamada Paran Maum, formada pelas amigas Kei, Kyoko e Nozomi, que buscam uma nova integrante após a saída da guitarrista, que machucou a mão, e da vocalista, que deixou a banda após uma discussão com Kei. Faltando três dias para o festival escolar e sem parte das integrantes, as amigas vão em busca de uma nova vocalista e, por acaso, acabam chamando Son, uma estudante de intercâmbio coreana que tem dificuldade em falar japonês. A partir daí, a trama acompanha os ensaios da banda e os obstáculos até a apresentação final, com o hit do punk rock japonês Linda Linda, da banda The Blue Hearts, que dá origem ao título do filme.
Dirigido e co-roteirizado por Nobuhiro Yamashita, Linda Linda Linda se destaca entre os filmes de bandas adolescentes por sua simplicidade cativante. Conhecido por suas narrativas de coming of age e seu humor inexpressivo, Yamashita transforma o monótono em algo aconchegante. A história segue um caminho previsível, mas o roteiro evita dramatizações excessivas, explorando os obstáculos da banda com um enredo simples. Não há grandes conflitos nem vilões tentando sabotar a apresentação. Em vez disso, as personagens enfrentam os desafios com uma sensatez natural, tornando a jornada mais genuína.
Pouco é explorado do background das personagens; entretanto, o comprometimento que elas assumem em conseguir se apresentar com a nova formação, tendo apenas três dias de ensaio, é o suficiente para que haja um desenvolvimento e apego a elas. Momentos de descanso entre os ensaios e suas rotinas escolares, nos quais elas aproveitam a companhia umas das outras, apenas ressaltam o quanto de simpatia passamos a ter por elas.
Linda Linda Linda estabelece, através da música, uma conexão entre as integrantes e também com o público. Acompanhar o desenvolvimento da banda nos ensaios deixa claro que a narrativa retrata, de fato, uma banda escolar. Elas não são as melhores tocando: Kei, que antes era tecladista, se vê obrigada a aprender a tocar guitarra em três dias, e Son nunca tinha sequer feito parte de uma banda, tendo aceitado o convite sem entender no que realmente estava se metendo. Tudo nos cativa a torcer pelo triunfo na apresentação final.
O filme segue um ritmo lento; as cenas são compostas de planos longos e pouco movimento, com predominância de enquadramentos a uma distância média e quase nenhum close-up ou plano detalhe. Focadas em capturar a mundanidade do dia a dia, não como algo tedioso, mas como a própria essência que ocasiona os objetivos e obstáculos da banda, as cenas apresentam os personagens sempre perfeitamente enquadrados dentro do plano, explorando até uma certa simetria, o que torna tudo visualmente satisfatório. O diretor prioriza a identificação do espaço por meio de planos mais abertos e planos médios, permitindo que vejamos todos os personagens em cena como se nós mesmos estivéssemos inseridos no filme, observando os diálogos.
Há momentos em que a câmera acompanha os personagens enquanto caminham pelos corredores da escola ou pelas ruas da cidade, reforçando a sensação de tempo real e cotidiano. Esse ritmo pausado permite que a narrativa crie um contraste com a cena final da apresentação, que surge como um momento de euforia. Gosto de como a montagem dos momentos finais do filme é intercalada de cenas da banda no palco com imagens de outros personagens que assistem da plateia e outras dos cenários vazios, tudo enquanto ainda ouvimos a apresentação da banda ao fundo. Finalizando com imagens que aparecem antes do créditos, das protagonistas em alguns momentos aleatórios ao som da banda original tocando.
Ainda falando em termos técnicos, a fotografia não possui grandes contrastes ou estilizações marcantes, os tons frios e neutros constroem a atmosfera monótona e a sensação de transitoriedade, acompanhando a jornada das protagonistas. A iluminação, que é predominantemente natural, enfatiza a textura dos espaços e a simplicidade da ambientação escolar e urbana.
Sobre as personagens, Yamashita opta por um estilo de atuação naturalista e despretensioso, em que as interações parecem mais espontâneas. A dinâmica entre as quatro funciona de maneira inicialmente tímida, já que Son ainda não domina o japonês. Suas primeiras interações com a banda são um pouco desconfortáveis, muitas vezes preenchidas por momentos de silêncio, mas percebe-se o esforço das garotas em tentar estabelecer uma comunicação. Logo nas primeiras interações, em uma parada de ônibus, Son e Kei, enquanto esperam, conversam de forma embaraçada, com gestos e palavras pausadas. No entanto, ao final da conversa, fica claro o empenho em fazer as coisas darem certo.
Kei, interpretada por Yu Kashii, entrega uma performance silenciosamente carismática, sempre deixando claro que é a cabeça quente do grupo. No entanto, ela também demonstra ser atenciosa com as integrantes. Kyoko, interpretada por Aki Maeda, traz uma personagem mais tímida e leve para a trama. Já Nozomi, interpretada por Shiori Sekine, teve pouquíssimo destaque no filme, mas sua personalidade mais reservada complementa a dinâmica do grupo.
Son, interpretada por Bae Doona, é a personagem que mais marca o filme. Mesmo com poucas falas, sua linguagem corporal e expressões comunicam claramente sua dificuldade de adaptação e a surpresa genuína ao encontrar seu lugar na banda. O espectador percebe o quão surpresa ela fica ao descobrir que é boa em algo que nunca havia considerado, ao mesmo tempo em que sente sua frustração por não conseguir se expressar tão bem quanto gostaria com suas novas amigas. Essa dificuldade de comunicação não é necessariamente apresentada como um obstáculo, mas sim como parte de sua complexidade de interação, algo que se encaixa perfeitamente em sua condição de estudante de intercâmbio.
Uma cena em específico me chamou a atenção ao falarmos da personagem Son. Durante uma das noites de ensaio na escola, Son sai caminhando da sala de música até o ginásio, onde fica o palco da apresentação. Sozinha, ela se posiciona ao centro e faz uma introdução das membros para a plateia imaginária. No entanto, em vez de usar o japonês, ela fala em sua língua materna, o coreano. Esse é um dos poucos momentos em que vemos Son se expressar de maneira mais expansiva, descrevendo com carinho as outras integrantes da banda e indicando como ela realmente se sente em relação a essa conexão que conseguiu criar, em pouco tempo, com as garotas.
Linda Linda Linda é como assistir memórias valiosas, que mostram as simples experiências da adolescência, tudo é tão trivial mas ao mesmo tempo tão grandioso. Percorrendo entre suas diferenças, inseguranças e singularidades, as personagens nos cativam ao mostrar a conexão que surge entre elas através da música. Não é um filme com uma mensagem profunda sobre como elas vão amadurecer com as vivências que estão prestes a passar, mas sim um recorte da vida dessas adolescentes. Nobuhiro Yamashita consegue mostrar a beleza da simplicidade de uma história sobre quatro garotas que formam uma banda, tendo como único objetivo aprender a tocar as músicas do The Blue Hearts para apresentar no festival cultural da escola.
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