Crítica do Filme Adorável Evolução

por Victor Quadros /

Quando vemos o estado do mundo e suas crises, pensar em um futuro pode ser um exercício ardiloso, a crise climática, crise política, guerras, o acúmulo de capital, nada parece caminhar para uma possível harmonia entre o ser e o espaço em que ele vive. “Adorável Evolução” pratica o exercício de pensar um futuro para a humanidade através de outras lentes, muitas vezes com discursos confusos, mas sem perder suas qualidades técnicas. 

“Adorável Evolução” acompanha o dia a dia de um futuro distópico e extremamente plastificado, figurativamente e literalmente, através do ponto de vista de um bebê. O filme possui um aspecto delirante, as atuações são exageradas, as cores saturadas demais, os objetos são desnaturados, tudo isso ajudando a compor o discurso do filme, que em muitos momentos parece um pouco equivocado. Existem muitas camadas na discussão sobre o futuro da humanidade, é necessário que qualquer obra que tenha um discurso crítico em relação a isso tenha a capacidade de distinguir e apontar os agentes causadores dos males que vemos hoje, se esse cuidado não for tomado, o discurso se ausenta de uma crítica assertiva e pode muitas vezes ser esvaziado, ou ainda, se voltar contra as vítimas do objeto criticado. 

Consumismo, consumo de ultraprocessados, crise climática, acúmulo de lixo, todas essas coisas são práticas que são fomentadas por agentes que vão muito além do cidadão comum, e “Adorável Evolução” em muitos momentos parece não ter essa percepção. Apesar de ter críticas válidas, o filme ainda parece cair em algumas falácias do senso comum que, na maioria das vezes, aponta como culpado a pessoa errada. Tudo isso resulta em um filme que tem a melhor das intenções, mas que talvez precise revisar a fonte do problema que crítica. 

Apesar de “Adorável Evolução” tratar de temas densos, o projeto opta por uma estética colorida e cheia de plasticidade, que claro, existem intenções nessas escolhas. A estética adota essa plasticidade futurista distópica, algo que lembra a estética de “Divino Amor” de Gabriel Mascaro, ou então o episódio “Nosedive” da série Black Mirror, mas aqui essa plasticidade é ainda mais intensa, usando color block, lixo na composição dos figurinos, coisas inconsumíveis viram comida, é de uma criatividade belíssima de Madu Medeiros, a diretora de arte do filme. No entanto, toda essa plasticidade, assim como a trilha sonora, por serem tão intensas, de visual e sonoridade tão saturados, parece desumanizar uma crítica tão relacionada à humanidade. O que resulta em um filme delirante, mas onde a mensagem de impacto não é transmitida. 

Por outro lado, existe um cuidado enorme com os processos técnicos do projeto. Ressalto aqui a Direção de Arte de Madu Medeiros, é de um trabalho muito criativo não só de composição de cenários ou o uso de cores, mas também a produção de objetos e figurinos que transformam lixo em arte, além do trabalho de maquiagem que também é concebido lindamente. Outro ponto alto do aspecto técnico do filme é a trilha sonora original de Lucas Sandoval, que empresta da música clássica para criar uma composição que traduz um delírio que aos poucos nos consome. Por fim, ressalto o trabalho de Colorização e Direção de Fotografia de Brendon Mota, que intensifica toda a experiência que tive com o filme.


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