Crítica do filme Pálido Ponto Vermelho

Por Raphael Mendes /

Pálido Ponto Vermelho, um curta-metragem brasileiro de horror e ficção científica escrito e dirigido por Kalel Pessoa, Lucas Parijós e Arthur Oliveira, utiliza o subgênero found footage e um contexto jornalístico fictício para explorar questões contemporâneas como desastres ambientais e a efemeridade da vida, enquanto faz uma crítica ao sensacionalismo e à busca por respostas no caos contemporâneo. Com cerca de 20 minutos, a obra gira em torno do “Obelisco Escarlate”, um objeto misterioso que surge em um campus universitário e desencadeia caos após um incidente com um grupo de documentaristas.

Pálido Ponto Vermelho se insere no debate sobre as limitações e as potencialidades do found footage no cinema contemporâneo. O subgênero, amplamente associado a filmes de baixo orçamento e terror, tem sido utilizado para gerar desconforto por meio de distorções visuais e sonoras. No entanto, a sua utilização exige mais do que uma repetição de recursos estéticos; é necessário um tratamento narrativo que eleve a experiência. Nesse sentido, o filme traz uma reflexão sobre os desastres ambientais e a fragilidade humana, mas também se aproxima de outras obras no subgênero, como A Bruxa de Blair (1999), ao apostar na desconexão entre a imagem e o som para aumentar a tensão. Aqui, há um uso criativo da realidade, levando em consideração que o filme explora essa técnica para construir uma narrativa perturbadora, mas também arrisca cair em uma certa redundância estilística.

O principal ponto positivo de Pálido Ponto Vermelho está na sua capacidade de transformar limitações orçamentárias em recursos criativos. A estética analógica, com imagens deterioradas e distorções sonoras, é uma ferramenta eficaz para gerar uma sensação de desorientação e desconforto. A escolha do found footage se faz justificada não apenas como uma referência ao gênero, mas também como uma tentativa de aproximar o espectador do caos e da imprevisibilidade que a história propõe. A utilização do jornalismo fictício confere verossimilhança à trama, tornando-a mais realista dentro de seu contexto ficcional, e ao mesmo tempo, estabelece um paralelismo com a forma como os eventos de grande escala são apresentados e consumidos na mídia contemporânea.

Além disso, a cena final, com a música Último Dia de Paulinho Moska, traz uma camada emocional significativa à obra. A escolha dessa canção, com seu tom melancólico e reflexivo, encerra a narrativa de forma simbólica, ampliando o impacto do filme ao conectar questões existenciais com a realidade de um mundo pós-pandêmico.

Embora a estética de Pálido Ponto Vermelho seja um de seus maiores trunfos, o filme não está imune a alguns problemas relacionados à repetição e ao ritmo narrativo. O uso de texturas visuais desgastadas e sons distorcidos, por mais eficazes que sejam no início, acabam se tornando previsíveis e pouco inovadores à medida que o filme avança. A falta de originalidade em certos aspectos visuais enfraquece o potencial do curta de se destacar no gênero found footage, que já é saturado por convenções estéticas similares.

Outro problema significativo é o ritmo irregular da narrativa. O filme oscila entre momentos de grande tensão e passagens mais lentas, que comprometem a experiência imersiva do espectador. A história, embora interessante, poderia ter sido mais bem equilibrada, com mais foco no desenvolvimento dos personagens. A construção deles é superficial, o que torna difícil para o público se conectar emocionalmente com os eventos que se desenrolam. Em um gênero que depende da intensidade e do impacto emocional, a falta de uma conexão mais profunda com os personagens é uma falha que diminui o impacto do curta.

Pálido Ponto Vermelho se posiciona como uma obra importante dentro do cinema universitário, principalmente no que diz respeito à exploração do found footage e das questões ambientais e existenciais que ele aborda. A utilização criativa de recursos limitados mostra o potencial do cinema de baixo orçamento como veículo para experimentação estética e narrativa. No entanto, o filme sofre de alguns problemas de execução que comprometem sua capacidade de se destacar completamente. A repetição de certos recursos e a falta de um ritmo mais coeso dificultam que o curta atinja o impacto emocional desejado.

A contribuição do filme para o cinema universitário reside, sobretudo, na forma como ele subverte as expectativas do found footage, utilizando o estilo de maneira crítica para engajar o espectador em uma reflexão mais profunda sobre os desafios do mundo contemporâneo. O desafio está em repensar os limites da estética found footage e explorar mais profundamente a construção de personagens e a continuidade narrativa. A obra abre espaço para uma reflexão mais ampla sobre a fragilidade da vida e a inevitabilidade de catástrofes, sendo uma contribuição valiosa para o cinema de gênero com um enfoque crítico e experimental. No entanto, o ideal seria equilibrar melhor a forma e o conteúdo, para que a obra se distinga de forma mais significativa dentro do contexto do cinema contemporâneo.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *