Por Ângelo Souza /

Rouxinol, segundo curta-metragem produzido pela Matilha Filmes e dirigido por Diego Maia, apresenta um romance experimental sob a perspectiva distorcida de seus personagens. Na trama, um homem e uma mulher vivem uma realidade monocromática, alternando entre cenários insípidos, góticos, melancólicos e solitários. Cercados por esse mundo, tornam-se reflexo dele ao enxergar beleza em sua podridão, admitindo a contradição como parte de um ciclo natural, ao qual anseiam por fazer parte.
A estrutura narrativa abdica, em parte, a sucessão factual da história para expor a subjetividade dos personagens, assim moldando a relação um com o outro. Essa exposição é feita por meio de monólogos alternados, de natureza vocal poética. Tal decisão, ainda que traga um molde interessante à apresentação do enredo, prejudica a construção da montagem, que poderia ser mais sofisticada. Por vezes, tal departamento torna-se um dispositivo de representação muito cru e direto do texto.
Ainda assim, há momentos de maior destaque no encadeamento e associação de planos da metade do filme para o final, em que simbolismos imagéticos somam-se ao caráter poético de modo mais interessante ao comportamento meramente complementar, assumido em um primeiro momento.
A fotografia se destaca bastante ao usar de imagens e composições que elucidam os sentimentos dos personagens, e a subjetividade de seus monólogos. O uso de câmeras estáticas captura a melancolia, sem neutralizar o movimento das imagens, enquanto momentos de movimento de câmera mais caóticos complementam as tensões dramáticas. A colorização em preto e branco não é apenas estética, mas demonstra coesão com a atmosfera proposta, pensada para a paleta monocromática.
O som minimalista, ainda que deixe de acrescentar, não prejudica em nada a narrativa. Pelo contrário. Há diversos momentos em que o simples uso de som ambiente se conecta de maneira tão uniforme ao todo, que quase assume um caráter de trilha musical, ainda que o filme não conte com alguma.
As atuações cujos diálogos são separados da performance entregam a sensação de se estar na cabeça dos personagens, tornando o espectador íntimo de seus pensamentos. Contudo, não há interação direta de diálogo entre os personagens que justifique a construção de sua proximidade. Essa proximidade, ainda que possa ser sugerida por atuações mais implícitas, pode não ser suficiente para estabelecer uma justificativa sólida de relação dos personagens ao espectador.
Por fim, Rouxinol é um filme que entrega um experimento interessante às convenções da narrativa romântica, sem se intimidar pelo caráter de produção universitária. O curta reforça bem seus melhores aspectos, sem decepcionar nos demais departamentos, e certamente é uma soma bem-vinda ao festival do 7° Toró.
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