Por Pedro Moraes /

Escrito e dirigido por Lucas Ribeiro, o curta-metragem KM 100 foi desenvolvido e realizado como um Trabalho de Conclusão de Curso por estudantes da Fundação Armando Álvares Penteado. Durante seus 20 minutos de duração, o curta conta a história de Miguel e sua jornada em busca de suas raízes. Desde o princípio a narrativa nos mostra que mesmo quando criança Miguel ansiava por respostas e tinha muita curiosidade de saber mais sobre o passado de sua família. Nas primeiras cenas do curta ele busca essas respostas com a sua mãe, no entanto as respostas de sua mãe sobre as memórias de sua família não são o suficiente para lhe satisfazer. Na narrativa principal do curta temos um Miguel já adulto fazendo uma viagem em busca de seu avô, visando conhecê-lo e também para poder perguntar sobre suas memórias de família. Essa viagem o leva ao KM 100 de uma estrada, onde apesar de não encontrar seu avô, ele encontra diversas outras pessoas pelo caminho.
A construção sonora e visual desse curta é feita de uma forma muito cuidadosa e apropriada para a narrativa. Com uma montagem quase que documental em alguns momentos, nós conseguimos sentir como se estivéssemos vendo uma história real se desenrolar em tela, ou melhor, é possível que muitas pessoas se sintam na pele de Miguel por terem passado por situações parecidas. O roteiro é trabalhado com base nesse assunto que é comum ao povo brasileiro, povo que é miscigenado, em que a questão de saber qual a sua origem determina bastante a sua formação cultural e de identidade. Quando Miguel acaba por não encontrar seu avô no fim de sua jornada, esse objetivo dele fica incompleto, ele fica sem conhecer o avô e fica sem respostas, apenas com um vazio não preenchido. Mas aí vem a montagem quase que documental citada anteriormente, porque após Miguel estar ciente de que não iria encontrar seu avô e passar uma noite inquieto, a montagem nos mostra inúmeros planos de pessoas comuns, pessoas que não eram personagens, os ambientes onde eles estavam eram reais, suas roupas e reações ao interagir com a câmera também. Inclusive, percebi em uma segunda visualização que realmente essas pessoas foram creditadas como figuração documental. Particularmente acabei tendo um entendimento sobre o filme que eu não posso garantir que seja a ideia original que os realizadores queriam passar, mas creio que quando Miguel não encontra suas raízes onde ele achava que ele iria encontrar, ele acaba tendo isso em comum com grande parte do povo, e isso de uma forma ou de outra acaba gerando pertencimento.
Por fim, esta foi uma obra que me surpreendeu de forma bastante positiva, por juntar um roteiro excelente com uma qualidade técnica excepcional. É um filme que ainda tem um longo caminho por festivais que ele com certeza fará sua presença ser percebida. Eu poderia dizer que com o orçamento suficiente e a equipe certa, esse roteiro poderia ser um longa-metragem de sucesso, mas acabo caindo no pensamento de que cada história tem seu formato ideal, e sinto que a história de KM 100 conseguiu atingir com sucesso seu objetivo dentro de seus 20 minutos de duração.
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