Crítica do filme Procura-se: Um Pato e Um Gato

Por Markos Vinícius Oliveira Bernardino /

Procura-se: Um Pato e Um Gato é um curta-metragem realizado em 2024 por Igor Coutinho e Letícia Belfort, discentes da Universidade Federal de Sergipe e estreantes na direção. A obra se apresenta como um convite à reflexão sobre amizade e solidão, nos levando por uma jornada divertida e tocante.

À primeira vista, a trama parece simples, porém surpreende ao desenvolver uma narrativa que mistura humor e uma doçura genuína, que parece cada vez mais rara no audiovisual universitário. No enredo acompanhamos um pato – esfomeado – que, ao vasculhar lixeiras pela cidade em busca de alimento, cruza o caminho de um gato – também esfomeado. E o que inicialmente é uma disputa por recursos, eventualmente se transforma em uma parceria implacável, levando a dupla a embarcar numa série de crimes e bagunças pela cidade.

O que mais me chama a atenção no filme, sem dúvidas, é o contraste entre os protagonistas. De um lado, um pato, animal que costuma caminhar em grupo e protegido por uma figura materna. Do outro lado, o gato, que é conhecido por sua independência e territorialismo. Esse embate de naturezas é o que nos leva ao clímax da história.

É inspirador ver que a fusão entre traços simples – porém bem acabados – e uma trama cativante podem resultar em uma obra sólida e realmente adorável de se assistir. Isso fica claro no terceiro ato do filme, onde o pato, solitário em um beco escuro, relembra momentos felizes com sua dona, enquanto o gato, isolado com sua comida no topo de um prédio, é guiado pela luz das estrelas em direção ao amigo. O momento, sem uma única palavra, consegue traduzir temas universais como empatia e generosidade.

De certa forma, é interessante pensar como o sentimento de abandono do pato, evidente desde a primeira cena, funcione como um dos dispositivos que o torne tão generoso com o gato, que apesar de individualista, encontra na convivência com o pato um motivo para desafiar seus próprios instintos e retribuir a generosidade antes recebida.

Por fim, é impossível não destacar o carinho evidente com que cada cena foi construída. Da composição dos quadros ao ritmo da narrativa, tudo no curta transmite uma sensação de cuidado e paixão. É exatamente todo esse carinho que faz de Procura-se: Um Pato e Um Gato uma obra que supera sua origem acadêmica e me faz acreditar que se trata de um trabalho que merecia estar na TV, certamente passando em algum programa infantil pela manhã, onde pequenas histórias encontram o seu público mais puro.


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