
Por Cecília Dos Anjos Siqueira /
Com os debates acerca das crises climáticas, a Amazônia em chamas e a COP 30 na esquina, Thiago Pombo traz à tona o debate acerca da privatização da natureza e suas consequências no curta A Cachoeira dos Pássaros da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). A narrativa segue um grupo de pássaros que se vê ameaçado por um projeto que planeja cercar o seu habitat e limitá-los em uma grande gaiola. Os pássaros se revoltam com a ideia.
O uso do stop motion no curta encanta e nos transporta para o habitat dos pássaros com cenários coloridos que utilizam de recortes e tinta acrílica. Espera-se uma linda história de amor e amizade e em instantes somos transportados para uma história de luta e resistência pelo direito de permanecer e existir.
Partindo dessa premissa, sinto que por vezes essa ameaça poderia ser mais explicitada pois não se sente de maneira tão clara a urgência desses animais em perigo. No começo me perguntei se o grande empreendedor ser retratado como um próprio pássaro foi a melhor escolha, mas afinal, vejo que a decisão traz uma reflexão clara sobre nossa própria espécie.
Segundo o Instituto Claravis, o Centro de Sobrevivência de Espécies Brasil, a perda de habitat é apontada entre as principais causas de extinção além do tráfico e desmatamento. O filme traz um desafio ao abordar assuntos complexos sem o uso de diálogos ou textos. Aprecio a abordagem “silenciosa” entretanto, em algumas cenas as intenções ficam confusas.
Apesar dos empasses, é impossível não ficar hipnotizado e investido na pequena jornada dos personagens apresentados. Os pássaros Tiê-Sangue, Sete Cores, Tico Tico e tantos mais que buscam pelo direito de viver em seu lar são apresentados de forma cativante com suas penas de papel colorido e cenários texturizados. A minúcia com que os movimentos foram planejados e montados na animação expressa as alegrias, frustrações e tristezas dos passarinhos. Criado inteiramente com recursos universitários, o filme explora diferentes texturas e técnicas nos cenários montados artesanalmente e compostos digitalmente, sem perder o toque ainda presente das mãos que construíram o filme nas pinceladas que pintam o papel de cada pena e o recorte amassado da cachoeira.
A Cachoeira dos Pássaros aborda de maneira belíssima e sensível a destruição da fauna e flora brasileira e supera desafios que permeiam a produção de uma animação com poucos recursos financeiros de forma brilhante.
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