
Por Lucas da Conceição /
O filme é escrito e dirigido por Matheus Neves por meio da produtora Infinita Filmes. O curta-metragem é um trabalho de conclusão de curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Pará. Rua da felicidade se apresenta ao longo da trama como um suspense bem-humorado, mas é uma pena não ter se decidido em vários sentidos.
Em uma sequência de apresentação bem construída e com uma câmera imersiva, somos apresentados à trama principal: O sumiço da gata de Esmeralda, uma garota que começou a falar de forma poética após o desaparecimento do animal. Ainda na sequência, o filme mostra um tipo de antagonista, o novo vizinho estranho e suspeito daquela rua. O curta é descontraído pela trilha sonora, personagens e diálogos, o que gera um contraste entre o suspense e o humor, que será mantido durante todo o filme.
A partir disso, o filme desenvolve outros personagens, alguns vagamente. O que mais se destaca é o Danrley, ou “Maconha” como é chamado, um jovem vendedor de drogas, escolhido pelo roteiro para encaminhar a narração da história. O curta se desenvolve após o surgimento de vários animais mortos na rua. Os moradores associam isso a alguma espécie de doença ou até mesmo um presságio ruim. Ao longo da obra, somos levados a crer que isso tem alguma coisa a ver com o novo vizinho. Porém, o filme deixa isso em aberto e com um final que gera dúvidas.
Após uma análise narrativa, há alguns pontos necessários para discutir, o primeiro é a estruturação da trama. Falta no curta-metragem um foco definido durante a narrativa, somos levados a diversas situações que não estão conectadas com o filme, me fiz a pergunta algumas vezes: “De que forma isso me ajuda a entender a história?”, “Qual o motivo narrativo do Maconha vender drogas aos moradores?”, “Qual a função narrativa da namorada dele?” Outro exemplo é “Qual a função do político aparecer fazendo propaganda?”. Na prática, essas cenas servem como ponto de apoio para dar sequência a outras partes mais importantes, em curtas-metragens, especificamente, as cenas de apoio precisam ser enxutas e diretas, pois podem deixar o filme vago narrativamente e sem um discurso objetivo.
Geralmente, o principal objetivo de qualquer filme é fazer o público se sentir inserido no mundo ficcional, realizadores contam com um arsenal de ferramentas para isso. Esse filme acerta em algumas, porém erra em outras. A mixagem sonora, algumas vezes, deixa a desejar. Em certas cenas a música com vocal e os diálogos disputam espaço de atenção do público, dificultando o entendimento das falas, vale ressaltar que isso acontece poucas vezes, mas são pequenos detalhes que definem a imersão do público na obra.
Apesar de alguns problemas graves, o filme ainda assim denota boas qualidades. A fotografia é bem representativa e agradável, a colorização simula aspectos analógicos de filmagem, em certos trechos o filme exibe aspectos nostálgicos que encaixam com o sentido narrativo. A direção faz um bom trabalho, o ritmo do filme é bem construído com planos dinâmicos e divertidos que prendem a atenção. Os diálogos são bem humorados, envolventes e representativos, construindo jargões e gírias típicas da região paraense. A direção de arte também faz um ótimo trabalho principalmente no uso das cores que combinam com a estética da obra.
É possível tirar muitas coisas boas de Rua da felicidade, que seriam melhores aproveitadas com uma história com um foco narrativo bem definido. No fim, o filme propõe que o espectador responda as seguidas dúvidas: Esmeralda e o novo vizinho estavam envolvidos com o sumiço dos animais? O que “Maconha” viu escondido no lixo? O que Esmeralda estava fazendo na tela do computador? O diretor faz uma crítica ao uso das redes sociais por menores? Ou ainda, “Será que o filme me deu pistas suficientes para responder a essas perguntas?” De forma geral, saio do filme com uma sensação de que ele queria me contar mais que os 26 minutos tinha para oferecer.
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