Por Mauro Sidney Mendes da Cruz Júnior /

O curta-metragem De Todas as Cores da Cidade, Amarela é a Minha Favorita, com 24 minutos de duração, é ambientado na cidade de São Paulo e apresenta a complexidade de uma “típica” família nippo-brasileira, marcada pela postura conservadora dos mais velhos.
A trama gira em torno de Maya, uma jovem profundamente abalada pelo luto após a perda inesperada de seu irmão. Devastada pela dor, ela ainda precisa lidar com a difícil convivência e a falta de comunicação com sua avó, uma figura que, aparentemente, desaprova relacionamento amoroso com pessoas fora da comunidade descendente. Esse conflito fica evidente por conta de Maya evitar o encontro de seus familiares com seu namorado, um rapaz negro, para que não houvesse conflitos que deixassem sua convivência mais conturbada.
O curta aborda com delicadeza temas como tradição, religiosidade e choque cultural, retratando a relação entre Maya e seu namorado como um ponto de contraste e enriquecimento mútuo. Um dos aspectos mais interessantes do filme é a abordagem da espiritualidade, tanto da parte de Maya quanto de seu parceiro. Enquanto ela mantém o butsudan (altar budista dedicado aos falecidos), ele possui um altar de uma religião de matriz africana, simbolizando as diferenças culturais entre os dois. Uma cena marcante é quando ele explica como, em sua religião, a passagem de um ente querido é celebrada com música e alegria, criando um contraponto com o tom mais introspectivo e contido das tradições de Maya.
A identidade nippo-brasileira da protagonista é revelada de maneira sutil, sem exposições explícitas, mas por meio de elementos visuais e narrativos, como o teruteru bouzu (boneco de papel pendurado para pedir o fim da chuva), o butsudan e os diálogos em japonês misturados ao português da avó típico de pessoas de comunidade japonesa, chamado “koroniago” (língua da colônia). Essa abordagem confere autenticidade ao retrato cultural e reforça o conflito geracional entre Maya e sua família.
Outro ponto forte do filme é a leveza com que os elementos culturais e familiares são apresentados, permitindo que mesmo espectadores sem familiaridade com as culturas japonesas se conectem com a história. Essa naturalidade torna o curta acessível, ao mesmo tempo que promove um diálogo sobre diferenças e pontos de convergência entre culturas e religiões.
Ao explorar temas como luto, tradição, conflito geracional e diversidade cultural, De Todas as Cores da Cidade, Amarela é a Minha Favorita oferece um retrato sensível e profundo de uma família em busca de reconexão. O filme não apenas se destaca pela autenticidade de sua representação cultural, mas também pela universalidade de suas emoções, que transcendem barreiras e convidam o público a refletir sobre os próprios vínculos familiares e sociais.
Além da fotografia, que contribui significativamente para a autenticidade visual do curta, criando uma experiência imersiva por meio de planos envolventes e bem compostos, há outros elementos a serem destacados.
No entanto, em relação aos diálogos, percebi que, em alguns momentos, faltou uma naturalidade maior, o que poderia ter aproximado ainda mais os personagens do espectador. Embora cumpram sua função narrativa, esses trechos poderiam ser trabalhados de forma a refletir de maneira mais fluida as interações do cotidiano, tornando a experiência ainda mais cativante e verossímil.
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