Crítica do filme A Colecionadora

Por Kalel Pessoa /

A Colecionadora é um curta-metragem de cinco minutos que explora a obsessão por moda e identidade por meio de uma narrativa simbólica e visualmente impactante. Dirigido por Rafaela Turkowski, o filme conta a história de uma jovem com aparência semelhante a uma boneca de porcelana, que busca capturar a essência da moda das pessoas que passam em frente à sua casa.

O curta levanta questões pertinentes sobre a ausência de identidade pessoal e a obsessão por apropriar-se do que é alheio para preencher lacunas internas. A protagonista, uma figura oca simbolicamente representada pela estética de boneca, reflete a dificuldade de estabelecer uma personalidade genuína dentro de uma existência que não tem pertencimento. O filme sugere que o vazio existencial pode levar à inveja, ao desejo de possuir aquilo que simboliza autenticidade, e, eventualmente, à destruição. Em um nível mais profundo, A Colecionadora parece discutir até que ponto a busca por inspiração pode ultrapassar limites éticos, uma reflexão pertinente na era das redes sociais, onde a curadoria de aparências muitas vezes oculta uma falta de uma personalidade única.

A direção de arte é, sem dúvida, o ponto alto do filme. A maquiagem e o figurino da protagonista contribuem significativamente para a construção de sua identidade visual como uma boneca de porcelana – uma escolha simbólica que integra também a temática de alguém vazia querendo buscar preenchimento em sua existência –, e os detalhes do cenário reforçam a estética minimalista com enfoque maior na personagem. A escolha de emular o visual de filmes da década de 1920, com referências a clássicos como A Caixa de Pandora, é particularmente eficaz na criação de uma atmosfera expressionista.

Apesar das qualidades visuais, o curta apresenta alguns desafios em sua execução. A montagem e a finalização deixam a desejar em criar um ritmo que amplifique o suspense, crucial para o impacto emocional da história. Em diversos momentos, a narrativa carece de um senso mais apurado de tensão, o que prejudica o envolvimento do espectador.

O plot-twist, embora conceitualmente interessante, é revelado de forma previsível. O roteiro poderia investir mais em sutilezas, criando pistas que desafiem o público a conectar os pontos, ao invés de entregar a solução de forma antecipada. Por fim, embora a fotografia seja competente em criar uma espécie de um noir, ela poderia explorar texturas e ângulos mais inventivos para reforçar o impacto expressionista e elevar a experiência visual.

A Colecionadora é uma contribuição promissora para o cinema universitário, demonstrando um olhar apurado para a direção de arte e um esforço notável em evocar uma atmosfera de suspense através da fotografia, no entanto, poderia beneficiar-se de um ritmo mais envolvente e de uma execução mais refinada do plot-twist. Apesar dessas observações da técnica, a temática apresentada é abordada de uma maneira inteligente e até profunda, partindo de uma análise mais afiada e propondo uma reflexão interessante sobre a inveja e a apropriação.

Para futuros projetos, a cineasta poderia explorar uma integração mais orgânica entre narrativa e estética, maximizando o potencial emocional e intelectual de suas histórias. Para o público, A Colecionadora oferece uma experiência visual interessante, embora limitada em sua capacidade de surpreender.


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