Crítica do filme Cartas de Sangue

Por Heric Ferreira /

O curta-metragem “Cartas de Sangue” foi escrito e dirigido por Lucas da Conceição no ano de 2023 e filmado em Belém e Ananindeua, no Pará, com algumas locações feitas na UFPA, onde o autor também é estudante. Trata-se de uma história que se passa no período atual, mas nutre um elemento antigo que guia a narrativa, talvez iniciado na era da idade média, o ato de se comunicar por cartas dentro de garrafas jogadas no lago pelo protagonista, o jovem Miguel.

No decorrer da obra, acompanhamos como o protagonista dedica bastante tempo a essa ação, seja escrevendo a carta em seu quarto, na elipse dele se deslocando ao portal de comunicação e no próprio lago ao aguardo da resposta do remetente, sempre refletindo de forma ansiosa e deprimida. Há um bom uso de planos em que pode-se ter uma noção do cotidiano do personagem e também uma quebra da temporalidade no momento em que deixa cair a garrafa e se abaixa para pegá-la, simulando uma passagem linear do tempo. Vê-se uma ótima feitura de efeitos como no gradual derramamento de sangue na carta de acordo com o estágio de emoção de Miguel, assim como no uso da música que funciona como um artifício para gerar expectativa e tensão. Essa boa correlação dos elementos é o que garante a ótima montagem de “Cartas de Sangue”, principalmente na primeira metade do curta, aliado paulatinamente à interpretação dos atores que não se preocupam em oferecer grandes averbações, culminando num desenrolar apático e moroso combinando com a obra.

Pode-se pensar que uma das questões do filme é a falta de um tema que o encadeie e feche o ciclo e isso é sentido na metade final, onde o ritmo torna-se por vezes demasiado lento e sem um clímax. Isso não prejudica a execução, no entanto alguns podem ver como uma quebra da promessa que foi criada através do suspense da música e do roteiro. O curta-metragem pode pender para uma história de situação e até um tanto batido como na interpretação de personagens que existem somente na mente do protagonista, muitas vezes visto no cinema.

Acertadamente, “Cartas de Sangue” oferece um perfeito exercício de nossos tempos atuais em que a falta de comunicação impera e cada uma das pessoas tenta reverter isso de variadas formas e nem sempre da melhor maneira. Vejo que serve como um alerta para uma época de solidão e incomunicabilidade onde as relações são prejudicadas. O público pode esperar uma vertente de uma história psíquica sobre a esquizofrenia, porém, que não é focada na condição em si, mas sim num conjunto social do protagonista que nasceu desnaturado e impróprio.


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