Crítica do filme Partilha

Por Stephanie Nascimento /

Com direção de de Louise di Fátima, Partilha é um documentário que fala sobre performance de uma forma atravessa a câmera, você sente o aconchego. É sobre família, sobre arte, sobre dança. O documentário Partilha apresenta uma narrativa sensível e inspiradora, sobre como a dança transcende barreiras e gera conexões profundas, tanto entre pessoas quanto entre formas de arte. Ele explora a história de uma mãe que encontrou na dança não apenas uma paixão, mas um meio de transformação pessoal, criando um elo singular com suas filhas.

Um dos pontos mais marcantes do documentário é como ele aborda a relação com a herança artística. Duas filhas seguiram os passos da mãe na dança, simbolizando e dando continuidade a expressão artística como forma de identidade e autoconhecimento. Elas se sentem plenamente completas em cima do palco. Já Louise, seguindo outro caminho, no cinema, encontra uma forma de partilhar a mesma arte, adicionando uma camada de profundidade à narrativa.

Embora ela tenha se afastado da prática da dança, o documentário revela que sua conexão com essa arte ainda é intensa, só que mediada por outra linguagem artística: o cinema. A dança não se limita ao corpo dos dançarinos, ela se expande para a câmera que dança junto, conforme a coreografia. Os movimentos de câmera, alternando entre planos fechados, focando no rosto, e planos abertos, criam uma narrativa visual que amplifica as emoções transmitidas pelos gestos corporais. Essa escolha reflete como a dança não precisa ser limitada a um único formato para ser significativa, e como ela pode se transformar e se adaptar às experiências individuais.

A produção também se destaca ao abordar a interseção entre a dança e o cinema. A trilha sonora é extensão da coreografia, e os silêncios entre o som e a imagem eleva a experiência sensorial do espectador. A montagem do documentário segue um ritmo próprio, em que os cortes precisos criam uma coreografia, principalmente pelo uso das cores, como o vermelho que é bem evidenciado, como se cada transição fosse uma extensão do movimento. A maneira como a filha combina as duas linguagens no documentário exemplifica como ambas podem dialogar, até mesmo em relação ao cinegrafista ou câmera que dança também na performance juntos com as bailarinas.

Partilha me fez lembrar da minha irmã Thais, que é bailarina, assim como a mãe de Louise. Lembro-me dos espetáculos em que eu a filmava, dos frames que eu mostrava para ela e na felicidade dela ao ver que eu peguei um momento especial da dança. Em resumo, Partilha não é apenas um documentário sobre videodança, ou como Louise menciona, coreodança, mas sobre o poder da arte como meio de conexão e transformação. Ele demonstra como a expressão artística pode atravessar gerações, revelando que, no fundo, criar é sempre um ato de partilhar.


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