Filme Me Ame Como É Pra Amar (Crítica 2)

Por Thiffany Martins /

Me Ame Como é Pra Amar é um curta-metragem roteirizado e dirigido por Lucas Blanco, e produzido pela Infinita Produções, como projeto de trabalho de conclusão do curso de Cinema e Audiovisual da UFPA. O filme conta a história de Nicolas, um garoto que, após a perda da mãe, enfrenta dificuldades ao ter sua sexualidade descoberta pelo pai, que o rejeita. O filme trabalha a temática LGBTQ+ de forma sensível e naturalista, onde este naturalismo é construído no cotidiano de Nicolas. A partir da subjetividade do protagonista, aliada às memórias retratadas em flashbacks, entendemos o que o filme propõe-se a refletir: as diferentes e individuais formas de amar, e como a sexualidade, ainda que um tema amplamente discutido, encontra dificuldades para ser normalizado em uma sociedade enraizada nos valores do conservadorismo. Essa reflexão começa a ser desenvolvida logo no início do filme, onde as imagens dos pais dançando e momentos felizes da família são conduzidas pela narração subjetiva de Nico, o qual se questiona sobre o objetivo do ato de amar – e se é justo o destino fadado a esses amores.

Um aspecto bem trabalhado e desenvolvido no filme é a relação de Nico com seus amigos Júlia e Felipe. Um exemplo desse bom desenvolvimento são as duas cenas em que Nico desabafa com cada um. Estas cenas são gravadas na mesma locação e com um plano semelhante, o que caracteriza o local como tradicional entre o trio. Essa relação é construída como o aspecto mais estável na vida de Nico.

O filme também se destaca pela pós-produção, especialmente na montagem e colorização. Na montagem, encontra-se sentido nas escolhas dos momentos de narração e flashback, que são alternados ao desenvolvimento da história. Nada é demais e nada é de menos, o saudosismo é construído ao passo que é transmitido para o público de forma clara. Essa alternância também é complementada pela colorização, na qual as memórias possuem tons quentes enquanto a história presente é conduzida pelos tons de azul e roxo, que adicionam o toque de melancolia que é pedido pela narrativa.

Apesar de majoritariamente se destacar pela sua montagem, há algumas falhas em relação à mixagem de som e escolha de planos. Um exemplo de cena que possui estas falhas destacadas é no momento em que Nico confronta o pai.

Nesta cena, sente-se a falta de um plano fechado antes de Nico se aproximar do pai. Seria necessário um cuidado maior para esse momento, tendo em vista que é o ponto de clímax do curta, onde Nico revela os seus sentimentos para o pai, deixando exposto algo que, até então, era íntimo apenas para o público.

Me Ame Como é Pra Amar convida o público a refletir questões de luto, empatia, amizade e amor. O cinema universitário é marcado por histórias que refletem a infância e questões familiares – os famosos childhoods. Nesse sentido, a obra busca ter um resultado maduro dentro deste formato. A direção não mede esforços para que os diálogos e ações mostrem a realidade do lar de diversos jovens que precisam diminuir a sua essência para caber na perspectiva dos pais. A obra encerra na mesma linha de reflexão que inicia: como a rejeição pode gerar a dificuldade em sentir o amor, seja ele o próprio, seja ele o romântico. É inegável que há aspectos técnicos e estilísticos que precisam ser refinados. Porém, a necessidade dessas melhorias não diminui a relevância do filme para a sociedade e para o cinema universitário, que deve buscar a mesma maturidade que Lucas Blanco retratou em sua obra.


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