Por Adso Sabado /

É preciso coragem para o cineasta se arriscar em colocar o nome em uma produção com estética e técnicas tão exóticas e diferentes das já sacramentadas e denominadas como “normais”. É, deveras, empolgante ver como o curta como “A Flor do Mal” foge do habitual na, talvez, mais famigerada das camadas de uma produção cinematográfica, o sequenciamento da imagem.
Além de qualquer outra coisa, é a sequência de frames que faz o Cinema ser Cinema, e a beleza do curta A Flor do Mal está em desconsiderar por completo este conceito, em fazer do filme uma montagem não de sequências de fotografias que causariam ao espectador a ilusão do movimento, mas, sim, uma montagem de fotografias paradas, estáticas, inertes no tempo, congeladas.
Com a boa realização da ideia, o inovador projeto causa ao no espectador uma sensação de estar preso no tempo, de estar paralisado nele, de que os segundos estão parados, de que futuro não chega, de que o presente não existe e de que apenas o passado é real, e ele se arrasta, se perdura, se gruda em nossa alma, sentimento esse de que seria impossível retratar, no nível em que foi retratado em A Flor do Mal, em um curta cujo movimento das imagens se faz presente.
Como eu disse no primeiro parágrafo, foram corajosos os cineastas que acreditaram nele, seria grande a chance de o projeto cair em uma ideia experimental sem sentido caso não fosse a aparente competência dos envolvidos.
A começar pela Fotografia – com o peso ausência de movimento, essa se viu mais importante do que nunca ao ter que carregar nela uma imagem bela e agradável, além disso, a falta de cores agregou demasiadamente na atmosfera lúgubre que a Direção visava transmitir.
Quanto à Direção, não há do que reclamar, foi de arregalar os olhos a aparição do Vulto. Em um curta em movimento, a distorção no corpo do Vulto não causaria o mesmo estranhamento visado pela diretora, a fotografia estática dá à cena um quê de solidez, uma aura de ser real, de ser confiável, o desconcerto emocional que o Vulto causa no espectador é ainda mais presente ao final do curta, quando começam a se sobrepor às imagens, gerando uma catártica e cativante confusão na mente de quem assiste.
A Trilha Musical é outra camada que merece prestígio, uma música de notas constantes, tensas, angustiantes e que causam aflição ao ouvinte. A curva da música, subindo até chegar ao seu ápice, foi de grande inteligência por parte do responsável, é de fazer o espectador ficar na ponta da cadeira.
No geral, A Flor do Mal é um curta experimental excelente, os cineastas aproveitaram bem a ideia inovadora que gerou o projeto, realizaram de forma ótima e convincente, é um curta que dificilmente será esquecido, não posso deixar nada além de minhas congratulações aos envolvidos.
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